domingo, 26 de dezembro de 2010

Felicidade

- Mamãe, o que é ser feliz pra você?
- Ah, meu querido, pra mim ser feliz é ver você e seu pai felizes. Ver vocês saudáveis, alegres e estando tudo bem.
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Noutro lugar...
- Amor, o que te faz feliz?
- Você sabe.
- Não, não sei. O que é?
- Você.
Relacionamento recente que acabou mais recentemente ainda. Mentiras saíam da boca do rapaz, muitas delas, a todo momento. Mentiras que o faziam feliz. Na verdade, além das mentiras, o que o fazia feliz era o dinheiro. O prazer de conseguir dinheiro e gastar o quanto puder. Mas isso ele não conseguia admitir para ninguém.
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- Senhora, estamos fazendo uma pesquisa. Gostaríamos de saber o que te traz felicidade.
- Ah, comer.
- Comer? Como assim?
- Sim, sentir sabores diferenciados, novos, preferidos, em geral, todos! Ir a restaurantes, pizzarias, festas, todos os lugares onde eu possa comer algo. - sorriu.
- Muito obrigada pela participação, senhora.
- De nada. - sorriu novamente. Apenas pelo fato de estar afobada para sair dali e ir para casa experimentar seus novos salgadinhos que havia acabado de comprar.
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- Aí, cara, existe maior felicidade do que essa?
- Jamais! - respondeu com os olhos vermelhos e sob o efeito da droga que experimentavam.
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- Sabe o que me faz feliz?
- O quê? - amigas conversavam.
- Ele.
A outra amiga ficou confusa:
- Como assim ele?
- Tudo que se resume a ele. O sorriso dele. O olhar, o cheiro, o jeito, a voz, o que ele gosta, tudinho!
- Mas vocês nem se conhecem, amiga. Por que você não diz que gosta dele?
- Eu sei, - disse triste - mas eu sou covarde. Não tenho coragem. Acho que ele debocharia de mim.
- Por que acha que ele faria isso?
- Pelo simples fato de ele ser ele.
- Ele não tem um título tão grande assim, vai. Só porque ele é o garoto mais bonito da escola não significa que ele te esnobaria.
- Não? hahaha... Você que pensa... Quantas garotas bobas apaixonadas como eu ele já esnobou? Perdemos as contas!
- E daí? Você não é igual a nenhuma delas! Ele pode gostar de você. Quem sabe ele já até gosta e você nem sabe...
- Impossível!
- Sabe o que eu acho? Acho que você deve ir atrás da sua felicidade.
A outra sorriu esperançosa. Ela teve tanta confiança em si, que eles namoraram por mais de um ano.
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- Papai, o que te faz feliz?
- Você é minha completa felicidade, minha princesinha.
- E a mamãe?
- A mamãe descansa no céu. Ela também já foi minha completa felicidade, antes de você nascer.
- Vocês dois são minha felicidade, papai.
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Hey, e você? É, você que está lendo! Qual é a sua felicidade? Ela está presente no momento? Se não, o que falta pra chegar até ela? Corra atrás dela! Seja feliz. =)

Ela só queria isso

Ela não queria ser famosa, ela não queria ter um namorado perfeito ou ter roupas de marca. Ela não queria ter amigas lindas e estilosas, ela não queria ter uma casa enorme e decorada ou ter o carro do ano. Ela não queria ter a profissão dos sonhos, ela não queria ser rica ou ser a mais bonita de todas as garotas.

Na verdade, ela só queria ser feliz.
Tendo tudo no nada.

A escolha foi feita

Não queria ter visto. Não podia ter visto. Não fiz bem em ter visto. Mas quer saber? Eu precisava ter visto. É uma necessidade minha. Se eu não estivesse ido lá para ver, não ia conseguir parar de pensar no que poderia haver lá...
Eles me viram. Não ligaram, foram embora. A escolha foi feita.
A dor foi tanta, que palavras não puderam expressar. Nenhuma saiu de mim. Fui embora como uma panela de pressão, prestes a explodir. Pela dor.
A escolha foi feita.

Fui embora na escuridão apenas na presença dela.
A dor.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Descuido


- Hey, por favor, não me deixe aqui sozinho.

- Calma, prometo não demorar, só vou em casa tomar um banho, trocar de roupa, volto logo.

- Não, por favor.

- Prometo voltar em, no máximo, duas horas.

E o prometido foi cumprido. Ela voltou em menos de duas horas, mas não havia mais vida naquele ser que habitava aquela cama de hospital há um longo tempo, lutando contra o câncer.

Ela se descuidou por tão pouco tempo... Mas nunca mais poderia voltar no tempo pra lhe dar mais um beijo, dizer tchau ou talvez dizer o quanto o amava.

Não sei, talvez


Não sei. Naquela tarde de sempre, tarde vazia, onde eu já via sorrisos como lágrimas e músicas como trovões, eu já não sabia o que fazer. O que fazer naquele vazio, naquele pesadelo neutro que traz tormenta e sentimentos ruins vazios.
Não sei. Talvez eu não tenha nada mais. Talvez não há nenhum motivo suficiente para eu ver o mundo de outro ângulo. Talvez falte estímulo. Talvez eu precise de algo mais.
Não sei. Talvez algo que traga brilho para minha vida. Algo que me faça sentir novamente o vento em meu rosto. Algo que mexa meu mundo, que me faça sentir felicidade pura.
Não sei. Essas possibilidades vagas e esses sentimentos vazios por não terem estímulo talvez estejam me movendo lentamente para um lado. Não para pior, talvez a luz do dia ainda esteja me iluminando, e ajudando a me mover para um lado melhor.
Não sei, acho que é hora de mudar. Acho que é hora de eu realizar velhos sonhos guardados e empoeirados. Talvez eu deva levantar minha cabeça, respirar fundo e fazer um mundo novo para mim. Talvez eu deva criar.
Agora eu sei.

domingo, 21 de novembro de 2010

Fotografia viva

Estrada vazia, céu cinza nevoado, árvores verde musgo debruçando-se umas sobre as outras quase formando uma espécie de telhado, mas ainda sim deixando espaço para ver o céu. Uma música simples, tocada no piano, mas que escutada vendo o cenário torna-se emocionante.
Um cenário simples pra uns, sem graça pra outros, mas exuberante para os que conseguem ver beleza nele. E uma confortável temperatura, quase frio.
Salta-se do carro, os aromas invadem os pulmões. Aromas que talvez nunca ou raramente seriam sentidos por qualquer outro ser vivo. Aromas que precisavam da hora certa, da temperatura certa, da luminosidade certa, do vazio de pessoas, do ar fresco exalado pelas árvores e da pessoa certa para os saber sentir.
Um cenário que talvez fizesse pensar na vida, que desse um pouco de medo ou até mesmo que fizesse sentir ser carregado no colo suavemente. Uma fotografia viva.
Vontade de morar ali, ficar ali pra sempre. Talvez trazer amigos, queridos e amados, mas nunca saberia se sentissem exatamente o que era pra ser sentido.
Uma paz interior que fazia esquecer dos problemas mundanos. Uma paz que deixasse o coração falar ou apenas sentir.
E no fundo um desejo de chuva para ousar nos aromas...

domingo, 24 de outubro de 2010

Bad Feeling

Tudo anda muito estranho desde a última semana pra cá. Nada ligado a ninguém e sim a mim mesma. Posso sentir a negatividade presente. Posso sentir olhos em mim.

Parece que estou com um pressentimento ruim, mas não quero acreditar. Porque da última vez que eu tive um pressentimento ruim nítido, não foi nada bom. Houve morte. Por enquanto acho que o que sinto não está nítido, mas parece que algo está pra acontecer e algo que não é muito bom. Eu acho que não quero acreditar.

Seja o que for, não quero que nada aconteça aos que amo, que nada aconteça a mim e a ninguém.

Só quero que esse sentimento passe...

domingo, 26 de setembro de 2010

Encontro na chuva

Estava chovendo. Eu andava ansiosamente pela rua. Asfalto molhado, passos rápidos. Os pingos grossos chegavam a fazer barulho em meu guarda chuva. E meu salto ecoava por toda a rua, como se fosse batidas na porta.
Nos últimos tempos, o qual eu não sabia mais contar, minha vida estava um inferno. Meu riso não era mais tão feliz quanto antes, minhas palavras não eram ditas mais com tanta vontade, tudo o que eu fazia não tinha mais sentido. Vida inútil. Meus dias se passavam sempre assim, como os chuvosos. Solitários. E mesmo que o sol se abrisse, não tinha mais o mesmo brilho.
Até que então, nesse dia, enquanto eu andava pela rua molhada, eu o encontrei. Eu nunca esperava encontrar algo tão singelo, tão puro.
- Você não precisa ficar mais assim, porque agora eu estou presente em você.
- Sim, mas estou confusa. Eu nem te conheço e você já me trouxe uma grande paz.
- Isso é só o começo. Ainda vou te trazer muito mais.
- Mais? Mais o que?
- Com o tempo você vai ver.
E com o tempo eu vi. Como aquilo tudo era maravilhoso. No dia seguinte eu acordei outra pessoa. Renovada. Não parecia eu mesma, não parecia a velha garota perdida na chuva.
O tempo foi passando e eu percebi que aquele havia sido o melhor encontro da minha vida. Todos os dias eu não precisava ver, não precisava de nada. Eu apenas sentia. De vez em quando eu ainda escutava a sua voz.
- E então, como você está?
- Quando você me aparece tudo fica mais bonito.
- Isso é o que eu tento proporcionar.
- Como você consegue fazer isso?
- Ah, você sabe. Eu não preciso dizer, eu sei que você sente.
- Sim, é verdade. Mas... eu só esqueci de perguntar uma coisa.
- Fale.
- Qual é o seu nome?
- Amor.

domingo, 19 de setembro de 2010

Dias nublados

Sei lá. Tem dias que eu acordo assim. E minhas manhãs deprimidas passam lentamente. Mas ainda consegue ficar pior quando essas manhãs se prolongam durante o dia e meus pensamentos me atormentam.
Só quero que esses dias passem logo e que um alívio raie sobre mim. Que o que é confuso, se torne certeza. E que o que for certeza, não volte a ser confuso.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dizer é para os fracos.

Quase ninguém sabia. Só quem precisava saber sabia. Sem ser preciso dizer nenhuma palavra.
E mesmo sem palavras, tinham absoluta certeza.
Absoluta certeza de que existia amor.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mães superprotetoras

- Não, mãe, eu não vou ficar andando sozinha.
[...]
- Vamos eu, Clara, Bárbara, Lê e Dri.
[...]
- Como assim? Nenhum adulto? Mãe, eu já tenho 18!
[...]
- Vai ser ali, naquele portão azul, perto do shopping.
[...]
- Aniversário do Carlos, mãããe. Já disse!
[...]
- Ah, sei lá, devo voltar umas 3 da manhã.
[...]
- VOLTAR ÁS DEZ? Mas mãs, a festa vai estar começando a essa hora!!!
[...]
- Tá bom, tá bom, ás duas e não se fala mais nisso.
[...]
- Tááá, mãe, não vou deixar nenhum copo meu de bobeira e não vou beber o que me derem.
[...]
- Táá, também não vou sair de lá de dentro.
[...]
- Já sei, mãe, tá booom.
[...]
- Também te amo, beijo.
*fim da ligação*

- BORA ZOAR, GALERA! HAHAHA

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Queria hoje


Quero acordar de manhã e ver flores no jardim. Pássaros cantando na minha janela e o sol morno esquentando nossos pés.
Quero acordar de manhã e encontrar você sorrindo ao meu lado, ouvir o cachorro latindo avisando a chegada do dia.

Quero levantar e sentir cada parte do meu corpo vibrando de alegria por ter você comigo.

Quero pisar na grama e sentir o úmido frescor que a noite deixou. Sentir o vento bater em meu rosto e fazer meus cabelos dançarem.

Quero olhar pra você e ter certeza de que no mundo não há ninguém igual, ter certeza de que é meu e que isso irá durar para sempre.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Foi-se

No escuro, a brisa fresca vindo da janela. O único som pronunciante era o de seu coração. Incessante. Lembranças iam e vinham. Lembranças de uma longa vida intensamente vivida. Seu corpo se acalma dos pensamentos. Seu tempo termina. Silêncio.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A menina

A menina olhava para o pássaro
E o pássaro olhava para a menina
Ambos observavam suas diferenças
Ambos observavam seus detalhes

O menino olhava para a menina
Enquanto a menina olhava para o pássaro
Ambos observavam
Ela, curiosa
Ele, apaixonado.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O abajur.

Eu estava na sala sentado. Confortável no meu lugar de sempre. Estava chovendo e as crianças brincavam no chão com cartas. E eu apenas observava...
Outro dia vi a filha mais velha chegar em casa com várias pessoas e fazer uma bela festa sem os pais saberem. E eu apenas observava...
Já vi o caçula derramar leite no sofá e limpar correndo antes que alguém chegasse e brigasse com ele. E eu apenas observava...
Já vi um sapo entrar debaixo do sofá e só sair na hora do jantar, onde muitos estavam sentados ali. Todos gritaram, alguns pularam, dois vomitaram. E eu apenas observava...
Cansei de ver a empregada limpar a televisão, o rádio e roubar pequenas coisas, como velas. E eu apenas observava...
Certo dia, a irmã do meio chegou perto de mim e... click!
- MÃÃÃE!
- QUÊÊÊ?
- Vem cá! Click click. - e ela veio.
- Que foi, menina? - limpava suas mãos em uma toalha.
- Olha.
Click click click.
- É, temos que trocar a lâmpada do abajur.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O último grito de Clover

Era uma vez uma menina que estava escrevendo. Seu nome era Clover.
Ela estava sozinha em sua casa, sozinha em seu quarto. A luz havia acabado, por isso ela estava apenas com uma vela acesa. Clover estava sentada em uma cadeira de madeira e á sua frente estava a escrivaninha, também de madeira. Com a luz amarelada da vela, a escrivaninha junto com a cadeira ficavam num tom leve dourado.
Clover estava com frio, mas sem roupas de apropriadas para isso. Ela estava com seus longos cabelos soltos, que se tornavam uma espécie de agasalho.
Ela escrevia, escrevia, mas ninguém sabia sobre o quê. Clover cessou sua caneta por um segundo e segurou a respiração, como se estivesse parando o tempo ou apenas checando se estava tudo bem.
Clover sentiu um frio subir pela espinha fazendo-a arrepiar por inteiro. Premonição?
Ela sentiu um leve assopro em seu ouvido dizendo oi. Isso a fez parar durante uns instantes. Seus olhos estavam arregalados. Clover cuidadosamente olhou para o lado com o canto do olho, sem mover a cabeça. Um vulto frio. Ela sentiu muito medo, mas viu que a única coisa que poderia fazer sem demonstrar seu medo era voltar a escrever. Levantar dali para checar seu quarto ou a casa estava fora de cogitação, então Clover voltou a escrever.
Passados alguns minutos de palavras tremulamente escritas, um vento gelado soprou seu quarto fazendo a folha em que ela escrevia voar, mesmo as janelas estando fechadas. Clover podia agora escutar o pulsar forte de seu coração. Ela se levantou com as pernas bambas, pegou a vela com as mãos trêmulas e caminhou em direção aonde a folha havia voado. Agachou-se e tomou a folha em suas mãos. Ao levantar-se, deparou com uma figura macabra sorrindo maliciosamente que só Clover poderia descrever.
E as paredes daquele quarto guardaram o último grito de Clover.
Depois de alguns dias de investigação, foi encontrada a folha em que ela escrevia...

"Aqui escrevo para quem encontrar esta carta. Hoje sairei da cidade e tentarei uma nova vida longe daqui. Engravidei há pouco tempo, mas meus pais ainda não sabem, pois se soubesse, me mandariam abortar, mas eu quero este filho.
Pais, se algum de vocês estiverem lendo isso, quero que saibam que amo vocês apesar de tudo. Um dia darei notícias.
Bom, sinto que devo ir agora. Estou com um pouco de medo, mas estou confiante. Parece que estou acompanhada, ainda não sei pelo quê. Peço que não me procurem, pois estarei

ELA ESTÁ COMIGO AGORA."

A carta foi encontrada suja de sangue e incompleta. Os pais de Clover se mudaram da casa após se traumatizarem ao encontrarem o corpo de sua filha incompleto e mutilado.
Foram encontrados no quarto apenas a cabeça, uma perna e os dois braços de Clover. Os pais dela alegaram que se mudaram também porque não tinham paz na casa e sempre escutavam um barulho insistente e interminável de choro de bebê que vinha do quarto dela, que estava completamente vazio desde a sua morte.

E nunca mais se ouviu falar de Clover e de seu mistério.




quinta-feira, 4 de março de 2010

A menina que se apaixonou pela morte.

Millie era uma menina comum, pelo menos pra ela e pras pessoas á sua volta. Certa noite, enquanto ela andava com seus amigos pela rua, por um descuido foi atropelada, entrando em coma.

Narrado por Millie:

Dia um. Acordei um pouco tonta num lugar claro e abafado. Eu escutava pessoas chamarem pelo meu nome, mas não tinha forças pra respondê-las. Eu estava sendo levada para algum lugar diferente. Colocaram-me num pequeno quarto branco e enfiaram-me tubos e agulhas. Eu sentia muita dor pelo corpo, mas não conseguia reagir.
- Millie, você me escuta? - era minha mãe. Eu escutava, mas não podia afirmar isso pra ela.
- Doutor, o que vai acontecer com minha filha? - ela chorava desesperadamente.
- Ela tem ferimentos sérios, estaremos cuidando dela, mas você não poderá ficar aqui por muito tempo, ela precisa descansar.
Adormeci. Finalmente minha dor havia sumido. Eu estava sob efeito de remédios.

Dia dois. Levantei da cama e andei pelo quarto branco, que estava vazio. Virei e levei um grande susto ao ver tal cena: deparei-me com meu corpo na cama, eu estava pálida e parecia estar morta. Mas como eu estava vendo eu mesma? O monitor ainda registrava as batidas do meu coração. Mas minha alma, minha essência não estava ali. Eu me sentia livre para ir pra onde eu bem entender.

Dia três. "Oi, meu nome é Elliot." Aquelas palavras foram gostosas de ouvir. "Oi." Senti timidez ao estar diante de um ser tão belo. "Acompanhe-me." Será que ele era médico? Ele saiu do hospital e eu continuei o acompanhando. Andamos durante horas e a noite caiu. Chegamos numa floresta com a mata bem fechada e ele me guiou até uma caverna escura e úmida. "Fique aqui por um tempo, estará segura." Ele saiu caminhando e se tornou parte da escuridão.

Dia quatro. Até então eu não havia dormido, nem comido, mas não sentia falta dessas coisas materiais. O dia se passou e Elliot voltou apenas quando a escuridão caiu novamente. "Vim te buscar." "Pra onde vamos?" "Para a escuridão. Onde a luz do dia não existe." Estremeci com um pouco de medo, mas me sentia totalmente segura com ele ao meu lado. Como se estivesse hipnotizada, apenas seguia Elliot e fazia o que ele ordenava.

Dia cinco. A escuridão. Quando percebi, havia chegado a meu destino junto ao Elliot. "Millie, fique comigo. Te protegerei agora e para todo o sempre. Você aceita viver comigo aqui, na escuridão?" A escuridão não era o que eu imaginava pra mim, mas eu já não era como antes, me sentia diferente. "Elliot, eu tenho medo." "Você precisa acreditar em mim." "Eu acredito."

Dia seis. Elliot sobrevoava a escuridão. Eu estava sobre as costas dele observando suas imensas asas azul marinho. Eu sentia que ele fazia parte de mim. Suas feições perfeitas me atraíam eternamente, eu havia me encontrado nele.

Dia sete. A chuva caía negra e fria. Eu sentia meus lábios congelados. "Você será minha, para sempre." Eternizou suas palavras com um beijo gelado.

FIM

segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Final

Eu estava triste. Havia chegado o dia em que Lily e Jake iriam embora e eu já tinha minha resposta para eles.
- Preciso falar com vocês. - disse me aproximando.
- Fale. - disse Jake.
- Eu desejo toda a sorte do mundo pra vocês dois. Nunca me esquecerei de vocês. Fazem parte da minha vida, da minha história.
- Você não vem? - disse Lily já chorando.
- Não. Seguirei meu caminho assim como vocês seguirão os seus. É triste, mas é preciso. - eu nunca havia me sentido tão triste desde a morte de meus pais. - Vão em paz e desejem-me sorte. Amo vocês.
Dei um forte abraço em cada um deles. Soluçávamos. Cada um tomou seu rumo e seguimos pacificamente tristes.
~
Vaguei durante algumas semanas, refletindo sobre a vida. Lembrei-me de quando eu era criança, quando meus pais me protegiam e me apoiavam. Quando eu sonhava ser um grande profissional. Tudo estava desmoronado. Eu ainda só não tinha me dado conta que eu, sim, eu mesmo, podia mudar isso de figura.
Depois desses pensamentos, a primeira coisa que fiz foi procurar uma biblioteca pública. Ali foi o começo de tudo. O meu recomeço.
~
Todos os dias eu ia para a biblioteca de manhã e passava o dia lá. Á noite eu trabalhava e dormia na rua. Aos poucos, fui me instruindo. Todas as noites eu juntava meu dinheiro, que era pouco.
Chegou a época de vestibulares, dei meu melhor. Para um bom futuro, tão sonhado, eu tinha que tentar de tudo. Esperei sair o resultado confiante como nunca. Quando saiu, demorei para acreditar. Eu passei. Aquilo era o símbolo de minha vitória.
~
De mês em mês, fui reconstruindo a minha vida. Consegui trabalho, casa e estava na faculdade. Eu era um novo David.
Alguns anos se passaram, terminei a faculdade, construí uma família, eu era uma pessoa feliz. Tive filhos, eu os amava com todas as minhas forças. Incrível como uns anos de pura dedicação, sonhos e força de vontade tornaram minha vida completamente diferente do que era antes.
Final feliz?
~
Viajei com minha família. Passei por alguns estados pelo meu país. Estávamos numa lanchonete descansando, quando vi minha filha brincando com uma menina da mesma idade aparentemente. Fiquei ali, apenas observando, até que a pequena menina caiu, então chorou. Minha filha a ajudou a se levantar e ela foi até sua mãe.
- Olha, mamãe, meu joelho está ferido.
- Não preocupe, minha querida. Chame o tio Jake, peça para ele lavar.
- Tá bem. - então ela entrou na lanchonete e sumiu, minha filha havia ido junto. Minha esposa estava alimentando nosso bebê que tinha apenas um ano. Retornei o olhar á mulher, mãe da menina. Eu a observava, ela me parecia familiar. Então ela percebeu que eu a estava observando e deixou uma lágrima escorrer pelo seu rosto fazendo uma grande expressão de espanto.
- David? - disse ela se levantando. Franzi a testa confuso. - Não se lembra de mim? Sou eu, Lily.
- Lily! Não acredito! - a abracei com força, nós chorávamos. Eu estava muito emocionado.
- David, quanto tempo. Olha só pra você! Como é bom te ver assim, tão vivo.
- Lily, você não sabe como estou emocionado ao te ver bem também.
- Você tem uma família. Lindos filhos. - as lágrimas não cessavam. - Eu sabia que você iria conseguir.
- Eu também sabia que vocês iriam ter sucesso no futuro.
- JAAAKE! - ela o gritou.
- Que foi, Lily? - disse ele saindo da lanchonete, que por sinal era deles. Quando ele olhou pra mim, teve a mesma expressão da Lily. - Não acredito, David! - me abraçou.

Aquele dia sim, foi um dia mais que memorável. Eu nunca esperava reencontrar Lily e Jake, mas aconteceu e foi maravilhoso. Conversamos durante horas e passamos alguns dias ali naquela cidade. Desde aquele dia, nunca mais perdemos o contato.
Lily e Jake eram pedaços da minha alma, quando eles estavam tristes, eu estava. Quando eles estavam felizes, eu estava. Nós confiamos em nós mesmos e alcançamos mais que um sonho, alcançamos nós mesmos. Basta encontrar você mesmo em outras pessoas para ser feliz.

FIM

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 4

Consegui achar a lanterna e reacendê-la. O bêbado estava desmaiado. Chamei Lily e Jake e saímos dali o mais rápido possível. Andamos em média de uma hora, nos distanciamos bastante da velha casa.
Os dias se passavam e passávamos as noites pelas ruas, em calçadas, debaixo de pontes, a rua agora era a minha casa. Eu estava sozinho para sempre e sabia disso, mesmo Lily e Jake estando ali comigo, eles eram meus amigos, mas eu estava sozinho.
~
Cinco anos se passaram, nós três crescemos. Ainda vivíamos na rua, mas trabalhávamos vendendo balas, engraxando sapatos, fazendo favores. Jake e Lily eram como irmãos pra mim.
Certo dia, eu estava pensando sobre meu futuro. Eu não queria viver na rua pra sempre, como mendigo, ganhando misérias. Eu sonhava alto, sonhava querendo realmente realizar. Mas eu sabia que meus sonhos eram praticamente impossíveis para um menino de rua, como eu. Pensei em desistir, mas sonhos são uma das coisas mais preciosas que nós humanos temos. Decidir lutar por mérito.
~
- David, eu e Lily tomamos uma decisão.
- Que decisão, Jake?
- Nós viajaremos por aí, com caronas. Vamos tentar uma vida melhor em outro lugar. Eu sei que é muito difícil, mas se você quiser, pode vir conosco. - os olhos dele mareavam.
- Jake, eu não sei o que te responder. - minha voz estava trêmula, levei um choque ao receber tal notícia.
- Tudo bem, David. - Lily sorriu e segurou minha mão, deixando escapar uma lágrima. - Nós iremos daqui a uns dias. Enquanto isso, pense.
- Obrigado, eu amo muito vocês. - nos juntamos num abraço triplo.

CONTINUA

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 3

Os passos se aproximavam, estava tudo completamente escuro. Não conseguia saber se a pessoa que entrava sabia se nós estávamos ali ou não. Tudo se silenciou durante alguns instantes. De repente uma lanterna se acendeu em meu rosto, levei um grande susto e arregalei meus olhos tentando enxergar quem era. O medo e a tensão tomou conta de todo o meu corpo, sentia o suor frio em minhas mãos, perdi o ar momentaneamente. A luz da lanterna se movimentou sobre os rostos de Jake e Lily, que também estavam muito assustados.
- Pirralhos, o que fazem aqui? - uma voz rouca e masculina disse. Eu podia sentir o hálito de cachaça. Não respondemos por puro medo. Eu sentia que Jake e Lily esperavam eu responder algo, apenas por ser mais velho e me "responsabilizar" por eles.
- Q-quem é você? - eu disse, minha voz tremia.
- Quem sou eu? Boa pergunta. Eu sou o dono dessa casa, sabia?
- Dono? - Lily disse baixo, como um miado.
- É, garota! Dono. - ele cospia as palavras.
- Estamos saindo, então. - eu confiei em minhas palavras. Não podia ficar ali com Lily e Jake.
- Epa, epa, epa! Alguém aqui disse pra vocês saírem? Acho que não... Podem ficar, mas terão que fazer uns favorzinhos pra mim.
- Nós preferimos ir embora. - Jake disse abraçando Lily. Até então eu não tinha visto o rosto do sujeito, pois ele apontava a lanterna apenas para nós três.
- VOCÊS FICAM! Hahahaha... E você, menina, vem cá. Senta aqui no meu colo.
- Não quero. - Lily disse praticamente chorando. Ela abraçava Jake cada vez mais forte, ele era seu protetor.
- Vem agora! - ele avançou nela e a puxou pelo braço.
Lily começou a chorar e gritar desesperadamente, mas eu sabia que ninguém viria nos ajudar ou salvar ali, naquela casa abandonada e no meio da madrugada. Se alguém devia fazer algo, esse alguém seria eu, o Jake estava com mais medo comparado a mim, eu era o que restava.
A lanterna estava caída no chão virada para a parede, então ninguém via o que acontecia ali. Eu só escutava Lily bater nele tentando se defender. Ela gritava "não" incontrolável e desesperadamente. Corri em direção aos fundos da casa e peguei um bom pedaço de madeira que estava jogado por lá junto a outros entulhos. Voltei para o local da cena. Tudo o que eu escutava eram: os gritos de Lily, o debater dela, o choro de Jake e meus corridos passos. Aproximei-me de Lily e do homem bêbado, pedi a Deus para que acertasse meu alvo. Juntei minhas forças e dei uma paulada na cabeça de alguém. Eu esperava que fosse na do maldito bêbado. Depois da paulada, tudo se silenciou, eu não queria ter machucado Lily. Tudo estava escuro e silencioso agora. O que havia acontecido? Nem eu sabia.

CONTINUA

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 2

Vi o grande carro preto indo embora rapidamente. Tenho certeza que eles ainda me procurarão, tenho que me manter escondido, mas não posso ficar em casa.
Andei pela rua durante algumas horas, procurando um bom esconderijo. Avistei uma casa com a construção não terminada, havia apenas tijolos. Ela era cercada de mato alto, por enquanto eu ficaria ali. Parecia ser um bom lugar pra um menino foragido.
Embrenhei-me no mato e entrei pelo que poderia se chamar de porta. O chão era feito de cimento, pelo menos. Andei pela casa para conhecer os cômodos e levei um grande susto: deparei-me com duas crianças menores que eu. Um menino e uma menina.
- Quem são vocês? - eles se abraçaram e se encolheram. - Não se preocupem, não vou machucá-los. - ele a soltou e levantou-se.
- Oi. - o menino disse, ele era mais velho que ela. - Sou Jake e essa é Lily. Quem é você? - eles estavam sujos.
- Sou David. Por que vocês estão aqui?
- Estamos sozinhos no mundo, nossa mãe nos abandonou.
- Ela morreu?
- Não. Ela não quis nos criar. - aquilo me deixou triste. Como uma mãe podia abandonar seus filhos do mundo? Inimaginável.
- Ah, sinto muito.
- Tudo bem. Sua mãe também te abandonou?
- Não exatamente. Ontem meus pais sofreram um acidente. Hoje o Conselho Tutelar veio me buscar, mas fugi e me escondi deles. - senti tristeza.
- Não fique triste, David. Você não é o único abandonado no mundo. Você pode ficar aqui com a gente, se quiser.
- Sim, eu quero. Mas não sei por quanto tempo, porque eles virão me procurar novamente. Tenho medo.
- Não se preocupe, ficaremos juntos. - ele estendeu sua mão esperando que eu a apertasse, então eu o fiz.
~~
Alguns dias se passaram, era difícil sobreviver ali. Sem água, sem comida. Tínhamos que pedir de casa em casa, esperando que alguém tivesse um bom coração e nos desse um prato de comida. Eu não havia tomado um banho sequer desde a morte de meus pais. Eu, Jake e Lily muitas vezes tínhamos que dividir um prato de comida ou um copo d'água. Eu não estava mais em meu bairro, pois alguém poderia me ver e avisar ao Conselho Tutelar.
Uma semana depois na nossa casa, eu me sentia magro, fraco e cansado. Tentava cuidar de Lily e Jake, pois era o mais velho.
Certa madrugada, ouvi alguns passos dentro de nossa casa. Levei um grande susto e os acordei cautelosamente. O que faríamos? Teriam invadido nossa casa?

CONTINUA

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 1

Era fácil ver o mundo assim. Pessoas na rua, mendigos, crianças abandonadas, todos nós estamos acostumados, inclusive eu. Eu afirmo que nunca, nunca mesmo pensei que um dia, eu pudesse passar tudo o que eles passam, viver essa realidade.
~~
Meus pais são filhos únicos, ou seja, não tenho tios nem primos, apenas meus pais. Meus avós já se foram. Meu nome é David, tenho 11 anos. Tenho poucos amigos, sou uma criança como outra. Tenho meus sonhos, um deles seria de ser médico.
Eu tinha uma vida boa, meus pais nunca deixavam faltar nada para mim. Até que um dia, aconteceu o inesperado, o que toda criança teme. Meus pais deixaram esse mundo por conta de um acidente de carro. Minha cabeça virou de cabeça pra baixo, o que eu faria? Eu era apenas uma criança e agora, eu estava sozinho no mundo. Meu mundo desmoronou.
Recebi a notícia por um telefonema da polícia, eu estava sozinho em casa. O conselho tutelar viria me buscar no dia seguinte.
~~
Bateram na porta, fui abrir e me deparei com algumas pessoas de terno.
- Oi. Você deve ser o David. Podemos entrar?
- O que vocês querem? - eu estava com os olhos inchados, pois não havia dormido na noite anterior de medo e tristeza.
- Nós te explicaremos tudo. Podemos?
- Tá bom, entrem.
Eles entraram e se aconchegaram no sofá, fiz o mesmo.
- David, nós somos do Conselho Tutelar. Você virá conosco e terá onde dormir, comer, estudar e terá amigos. Agora que está sozinho, não teria como pagar tudo o que seus pais te davam e além de tudo, você é menor de idade, não pode ficar sem responsável. - eu escutava tudo de cabeça baixa. - Você tem algum tio, algum parente?
- Não. - uma lágrima escorreu de meus pequenos olhos.
- Muito bem, então você virá conosco.
- Mas e a minha casa? E as coisas dos meus pais?
- Daremos um jeito.
Eu não queria ir com eles, não mesmo! Eu queria meus pais, mas eles não estavam mais aqui. Teria que me virar sozinho pra não ficar nas mãos dessas pessoas sem coração.
- Venha, David. - eles estavam na porta de minha casa me esperando.
Levantei do sofá e segui em direção a eles. Caminhávamos em direção a um carro preto. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo comigo, justo comigo. Sempre fui um bom filho, uma boa criança. Não terei esse fim. Resolvi correr, foi a primeira ideia que veio á minha cabeça para não ter que ir com eles. Corri com toda força que podia.
- Peguem ele!
Dois seguranças correram atrás de mim, mas eu era pequeno e poderia me esconder fácil, foi o que fiz. Virei a esquina e entrei num jardim de uma vizinha, eles passaram direto. E agora, o que eu faço?

CONTINUA

Descobrindo minha doença. - Final

Outubro, 2010
Cheguei ao show com Sophia. Estava bem cheio e agitado. Encontramos parte da galera lá, eu me enturmava aos poucos. Alguns ainda me olhavam torto, mas eu já havia acostumado e eles acostumariam comigo também, eu acho.
~~
- Oi, meu nome é Jack. E o seu? - o sorriso dele era perfeito.
- Julie. - sorri timidamente.
- Quer dançar comigo?
- Sim. - virei-me para avisar á minha amiga. - Sophia, vou ali um instante, ok?
- Ok. - ela continuou dançando com a galera.
Jack era da minha escola, mas não da minha sala. Eu nunca tinha reparado nele e acho que nem ele em mim. Nos misturamos no meio da multidão e começamos a dançar. Eu me sentia o mais livre possível. Há muito tempo eu não me sentia assim, muito mesmo.
Ele me puxou pela cintura colando nossos corpos, estávamos ofegantes. Olhou no fundo dos meus olhos, o espelho de minha alma e tocou seus lábios macios nos meus. Eu nunca esqueceria esse dia.

Novembro, 2010
Estávamos todos em minha casa na mesa de jantar. Eu estava feliz, minha família e a do Jack unidas ali. Ele se levantou e olhou para mim:
- Eu gostaria de pedir formalmente agora, já que todos estão aqui. Julie, nesse último mês, você entrou em minha vida rapidamente e já não imagino você fora dela. Eu te amo, você aceita namorar comigo?
- Siiim! - o abracei.
Aquilo pra mim era surreal. Eu venci minha doença, venci. E além disso, arranjei amigos e agora, um namorado. Minha vida era perfeita agora e eu estava mais feliz do que nunca.

Abril, 2011
- E, por fim, eu gostaria de dizer a todas as meninas que nunca percam a confiança em si mesmas. O melhor apoio é o dos pais e dos amigos, sem isso, não somos ninguém. Acreditem em vocês mesmas, sempre.
Eu havia acabado de dar a minha nona palestra para um grupo de garotas. Isso era o mínimo que eu podia fazer, passar pra elas tudo o que eu passei e mostrar o melhor caminho. A cura de uma doença, como a anorexia ou bulimia, é algo muito difícil que exige esforço e confiança do doente e apoio de todos á sua volta. Eu acreditei, eu me curei.

FIM

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Descobrindo minha doença. - Parte 7

Agosto, 2010
Anorexia. Uma doença incontrolável. Minha vida dependia de meus pais. Apesar do início do meu progresso, eu devia continuar confiante até atingir a minha cura.
~~
- Oi.
- Oi.
- Meu nome é Sophia. E o seu?
- Julie, prazer.
E ali foi o começo de uma grande amizade, dentro de uma sala de aula. Ela era diferente dos outros, eu nunca imaginaria isso.
~~
- Mãe, essa é a Sophia.
- Oi, Sophia. - ela sorriu.
Depois de um dia em minha casa, Sophia foi embora. Minha mãe veio conversar comigo.
- Julie, você arranjou uma amiga. - ela sorriu e me abraçou.
Era ruim lembrar de quando eu não tinha ninguém e ficava dias e dias sozinha em casa, sem comer, sem viver.

Setembro, 2010
- 45 quilos. Graças a vocês, meus pais. - eles sorriram.
Eu estava recuperando meu peso, isso era uma grande superação. Sempre quando eu me olhava no espelho, ainda tinha a impressão de que eu estava gorda, mas eu tentava esquecer, porque sabia que era apenas uma ilusão. Continuava confiante, eu estava perto da cura.
~~
- Julie, quer ir num show com o resto da galera?
- Num show, Sophia? Ai, não sei... Você sabe como isso é difícil pra mim.
- Mas pensa só, você já chegou até aqui, pra você agora o resto será fácil. Acredite em você.
- Tá bem, vou falar com a minha mãe. - ela comemorou e me abraçou.

CONTINUA.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Descobrindo minha doença - Parte 6

Julho, 2010
Férias. Meus pais estavam todos os dias comigo. Eles controlavam minhas refeições cautelosamente. Ás vezes, por mais que eu tentasse me impedir, eu vomitava. Por querer ou espontaneamente. Eu caía várias vezes, tropeçava fácil, tudo por causa da fraqueza. Muitas vezes o pensamento que a morte estava perto me invadia.
~~
- Mãe, vamos ao shopping? Tô afim de me distrair um pouco.
- Vamos sim. - ela sorriu e continuou arrumando a pilha de roupas sobre a cama.
A imagem se embaçou e escureceu diante de meus olhos. Eu senti uma forte tontura e me sentei com a mão na cabeça.
- Que foi, Julie? - senti nervosismo na voz dela.
- Eu tô tonta. - não vi nem ouvi mais nada.
~~
- Senhora, inclua essas vitaminas nas refeições da Julie. - ouvi ao fundo.
- Claro, pode deixar.
Abri meus olhos e me deparei com uma sala branca. Eu estava deitada e sentia um pouco de dor de cabeça.
- Mãe? - disse fracamente.
- Filha, você está bem? - ela e o médico vieram até mim rapidamente.
- Sinto um pouco de dor. O que aconteceu?
- Sua pressão baixou demais e você desmaiou.
Foi aí que me dei conta que estava com agulhas em meu braço. Depois de dois dias no hospital, voltei pra casa.
~~
Minha mãe trabalhava apenas um turno e deixava o resto do dia para cuidar de mim. Durante esse turno, meu pai estava em casa. Eles nunca me deixavam sozinha, apenas para dormir.
Minha mãe cuidava da minha alimentação como minha vida, e eu já não vomitava mais. Com o apoio familiar, eu me sentia muito mais amada e eu havia encontrado minha confiança.
~~
Agosto, 2010
A volta ás aulas. No primeiro dia de aula, tirei uma dúvida com o professor. Aquilo foi um ótimo progresso para mim. Estava feliz por ter conseguido.
Cheguei em casa sorrindo e contei a minha mãe o que havia feito. Ela ficou superorgulhosa.
- Filha, meus parabéns! Você é uma menina forte.
- Obrigada.
- Trouxe uma coisa. - fiquei curiosa. - Uma balança. Controlaremos seu peso sempre. E sem deixar as consultas de lado.
- Claro, mãe. - sorri. - Vamos estrear?
- Sim, suba.
- 42 quilos! AI, MEU DEUS, MÃE! - gritei de alegria e a abracei.
- Filha, você conseguiu 3 quilos, meus parabéns!
Eu nunca esqueci daquele dia. Ele representou o não só o início de uma nova vida, mas também que eu tinha o poder de me curar. Basta encontrar a confiança.

CONTINUA.

Descobrindo minha doença. - Parte 5

Se eu não dissesse, eu continuaria dessa forma, emagrecendo. E talvez conseguisse minha carreira de modelo. Mas eu não estava feliz. Eu estava acabada e o mundo parecia estar fechado pra mim. Por quê?
~~
- Não está acontecendo nada, eu já disse, doutor.
- Julie, eu só te perguntei, pra ver se você respondia. Na verdade, você está muito doente, e eu sei o que você anda fazendo.
- Não! Eu não estou doente.
- Você está com anorexia nervosa e também bulimia.
Minha mãe caiu no choro, ela se desesperou incontrolavelmente. Eu, sem saber que estava doente, também chorei. E muito. Pra mim, eu estava apenas cuidando do meu corpo da minha maneira. Mesmo sofrendo muitos sintomas ruins, eu não parava com isso. Era uma obsessão querer ter um corpo perfeito.
- Julie, preste atenção: você será encaminhada para o psicólogo, mas também continuará tendo consultas comigo. Você quer sair dessa?
- Eu quero emagrecer, ser modelo, ser linda. - eu sorria enquanto minhas lágrimas ainda caíam. - Esse é meu sonho.
- Mas você precisa entender que você é linda do seu jeito. E não precisa parar de comer, ou vomitar suas refeições para emagrecer. Você pode seguir sua carreira, mas sem essa obsessão. E também precisará do apoio familiar.
- Doutor, olhe para mim. Eu estou gorda!
- Minha filha, você não está gorda. Ao contrário, você está muito abaixo do peso.
- Vocês só podem ser cegos!
~~
Minhas consultas foram marcadas. Além do médico, eu também teria consultas com psicólogos. Eu não preciso disso. Eu estou bem. A culpa é do mundo, das pessoas.

Julho, 2010
Minha primeira consulta no psicólogo. Apenas minha mãe foi comigo.
- Boa tarde, Julie.
- Boa tarde.
- Então, o que você tem?
- O médico disse que estou com anorexia e bulimia. - eu estava triste, como sempre.
- E você acha o que disso?
- Na verdade, eu nem sabia que estava doente. Vou dizer a verdade: eu não comia quase nada. Eu queria emagrecer para ser modelo. Ter um corpo perfeito.
- Você sabia que nem todo corpo perfeito precisa ser magro?
- Mas pra ser modelo, deve ser assim.
- Julie, em primeiro lugar, vem a saúde. Como você se sente depois que começou a fazer isso?
- Tudo é muito ruim. Eu tenho insônia, falta de apetite, fraqueza, tristeza e muito mais.
- O que seus amigos dizem disso?
- Eu não tenho amigos. Na minha nova escola, ninguém se aproxima de mim. Os amigos que eu tinha, se afastaram.
- Será que eles mesmos se afastaram? Ou foi você? - eu nunca pensei dessa forma. - Você também deve ter se afastado deles.
- Sim, eu me afastei. Nunca havia reparado. Para mim, a culpa era deles.
- E por que você não tem amigos nessa nova escola?
- Sinto medo de fazer amizades. Eles riem de mim, zombam, me observam. Ás vezes sinto medo deles. Eles parecem ser todos iguais.
- Julie, ninguém é igual no mundo. Há várias pessoas com o coração aberto para uma amizade.
- Na minha escola é impossível.
- Nada é impossível. Você precisa acreditar em você e ter sua autoconfiança. Você precisa arriscar mais.
Aquelas palavras me fizeram acordar para o mundo. Tudo o que ela disse era verdade. Eu não posso pensar algo sem antes ter certeza, sem antes verificar. Eu preciso me curar, não quero que pensem que sou uma doente. Eu vou me curar.

CONTINUA.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Descobrindo minha doença. - Parte 4

Abril, 2010
Essa tinha sido a melhor solução que eu já tomei esse ano. Se eu diminuir minha alimentação, eu vou emagrecer, óbvio! Então foi o que eu fiz. Como meus pais não ficavam em casa, eu comia pouquíssimo. Nos fins de semana, quando eu estava com eles, eu comia um pouco mais, apenas pra disfarçar. Nos dias de semana, eu comia no máximo uma fruta por dia. Ás vezes eu não comia nada o dia inteiro, apenas bebia um copo d'água, ou não.

Maio, 2010
Minha mãe não me dava atenção devido ao trabalho, nem meu pai. Eu já não conversava com ninguém, guardava meus pensamentos e desejos para mim mesma. A escola era uma tortura diária. Eu passava os intervalos na sala de aula lendo. Eu estava emagrecendo, podia sentir.
~~
Todos os dias eu me olhava em frente ao espelho esperando ver um corpo perfeito, mas tudo o que eu via era alguém acima do peso, uma gorda! Eu estava com 40 quilos e usava roupas largas pra disfarçar, principalmente na frente de meus pais.

Junho, 2010
- Julie, venha aqui. - era um sábado.
- Fala, mãe.
- Vire-se de costas. - fiz com um pouco de medo.
- O que você anda comendo??
- Err, eu como normal. Comida, almoço, janta.
- Julie, vamos ao médico agora.
- O QUÊ?
~~
- Julie, o que você anda comendo? - o médico perguntou o mesmo que minha mãe.
- Eu faço refeições diárias. Como todo mundo. - menti.
- Vamos fazer uma endoscopia.
- Quando? - eu estava com medo de me descobrirem.
- Agora mesmo. Vamos.
Entramos em outra sala. Ele pediu pra eu me sentar e relaxar.
- Essa endoscopia se chama de gastrointestinal. Descerei o endoscópio pela sua garganta até chegar no estômago. Fique quieta, por favor. - eu não podia impedí-lo, minha mãe estava ali.
Ao terminar, eu estava um pouco tonta, porque ele havia me dado um remédio não sei para quê.
- Olha, Senhora, o estômago de sua filha não anda nada bem. Acho que ela não anda se alimentando corretamente. Vamos medir o peso.
Subi na balança e o médico se assustou.
- Julie, você está com 39 quilos!!
- O QUÊ? - minha mãe disse. - Como eu não percebi isso?
- Julie, por favor, estamos aqui e queremos seu melhor, por favor, nos diga a verdade e te ajudaremos também. O que anda acontecendo com você?
Deveria falar?

CONTINUA.

Descobrindo minha doença. - Parte 3

Fevereiro, 2010
Primeiro dia de aula, numa nova escola. Estou com medo e um pouco nervosa, mas tomara que dê tudo certo. O sinal bateu e entrei em minha sala. Niguém falou comigo, eu também não ousei falar com ninguém.
Uma semana se passou e eu não tinha falado com nenhum aluno e nenhum professor, eu me sentia invisível. Algumas pessoas riam de mim, não sei o motivo, mas eu sentia muitos olhares quando chegava perto dos grupos. Eu preferia tentar não ouví-los.
Certo dia, numa aula de Educação Física, levei uma bolada forte na barriga e caí no chão sentada. Isso foi motivo para todos rirem e zombarem de mim, aquilo acabava comigo, eu ficava muito triste. Eles gritavam "Fraca, fraca!", e eu sentia raiva e vergonha de todos.
Todo esse bullying me fazia pensar que todas as pessoas de minha escola eram dessa maneira. Não me aceitavam, não gostavam de mim. Eu também não ligaria pra eles, afinal de contas, quem gostaria de ter amizade com esses idiotas? Eu não.

Março, 2010
Eu sentia insônia, cansaço, medo de tudo e de todos. Não tinha apetite e estava sempre pálida. Não tinha amigos, meus pais trabalhavam o dia inteiro e eu ficava sozinha. Minha vida se tornou um inferno.

Abril, 2010
Sinceramente, eu não sei o que ainda me faz estudar, ficar nessa escola idiota, onde só tem alunos limitados, não sabem o que é amizade. Ano passado sim, eu tinha mais amigos, mas eles se afastaram, infelizmente. Sinto que estou feia, gorda. Parece que a cada dia que passa, eu engordo mais.
~~
Depois de almoçar sozinha mais uma vez, fui ao banheiro e me olhei no espelho. Meu braço estava grande, minhas pernas, minha barriga. Sim, eu estou gorda. Tive uma ideia! Peguei minha escova de dentes e vomitei tudo na privada. Bem melhor, agora não vou ter o que digerir e não vou engordar mais por esse almoço. Não comi mais nada hoje.

CONTINUA

Descobrindo minha doença. - Parte 2

Fevereiro, 2010
Emagreci dois quilos, que bom! Agora estava com 44. Acho que procurarei alguma agência de modelo, escondido dos meus pais, óbvio. Eles não podem saber, ou então não deixarão eu ir.
~~
- Em que posso ajudar?
- Eu vim fazer um teste. Quero ser modelo.
- Hum, sim. Preencha essa ficha, por favor.
- Pronto.
- Precisa da assinatura dos seus pais, querida. Menores de 18 não podem entrar na agência sem autorização.
Droga! E agora?
- Eu poderia entrar apenas pra ver como é?
- Claro, Carla te acompanhará.
Entramos. Eu via pessoas de todas as idades, mas tinha uma parte apenas de meninas adolescentes, como eu. E como elas eram lindas! Um dia estarei ali no lugar delas.
Um dos homens que as arrumava, veio até mim, dizendo:
- Boa tarde. O que você faz aqui? - ele era gay.
- Eu quaro participar, mas como eu preciso da assinatura dos meus pais, essa moça me trouxe aqui pra ver como é.
- E você quer ser modelo?
- É mais que um sonho! Um dia eu serei, sim.
- Você não acha que está um pouco gorda pra isso?
Gorda? Eu? Quem ele pensa que é pra falar assim? Ele é o avaliador, ele cuida das modelos e de suas formas, é.
- Mas, você acha que eu preciso emagrecer?
- Querida, olhe para as minhas modelos. Você se parece com elas?
- N-não. Mas vou parecer, você ainda irá me contratar.
- Boa sorte.
Saí de lá o mais rápido possível. Fui para conseguir uma vaga, não para ser insultada na frente de todos.
~~
- Julie, onde você estava?
- Na casa de uma amiga, mãe.
Fui para meu quarto e me olhei no espelho. Pensando bem, eu estava gorda sim. Olha só o tamanho da minha barriga!! Isso não pode continuar assim, não mesmo.

CONTINUA.

Descobrindo minha doença.

Oi, meu nome é Julie. Estou no primeiro ano do ensino médio, tenho 15 anos e meu sonho é ser modelo. Meus pais, como sempre, não aceitam muito essa ideia, mas eu faria de tudo para ver esse sonho realizado.

Março, 2003
- Filha, você não acha que está um pouco acima do peso?
- Sim, eu acho, mãe. Mas eu só tenho 8 anos. Ainda tenho tempo pra emagrecer e virar modelo.
- Modelo, Julie? Me poupe, isso não serve pra você.
Odeio quando minha mãe fala assim comigo. Ela me põe pra baixo. Eu tenho um sonho e vou conseguir alcançá-lo. Não importa o que os outros digam.

Agosto, 2008
- Fiu, fiu.
- Que que foi, moleque? - meu pai se estressava quando algum menino mexia comigo. Mas eu tenho 13 anos, isso é normal.
Enfim, eu não estava mais acima do peso. Ia pra natação três vezes por semana e estava em forma, cinquenta quilos. Eu não era magra, mas podia ver meus músculos desenvolvidos pela natação, não muito, mas pra minha idade estava ótimo.

Setembro, 2009
Ano que vem eu começo o ensino médio. Parei de fazer natação, desanimei. Meu objetivo não era ter músculos e sim ter um corpo de modelo. Sempre entrava em sites, via fotos, roupas, desfiles, tudo. Aquilo tudo era mais que um sonho pra mim. Eu queria ser famosa, conhecida pelo mundo, queria exercer a profissão dos sonhos e ser bem sucedida. Acho que muitas meninas sonham isso, mas eu vou realizá-lo, nem que seja contra a vontade dos meus pais.

Janeiro, 2010
- Filha, vou te levar ao médico.
- Por que, mãe? Não me sinto mal.
- Você está abatida. Também não fez mais nenhum exercício depois que parou com a natação. Você precisa se cuidar mais, filha.

Duas semanas depois.
- Muito bem, senhorita Julie. - o médico dizia depois de me examinar e me medir. - Você está com 46 quilos. Isso é pouco pra sua idade, você é alta.
- Não, doutor. Pra mim está ótimo assim.
- Ela quer seguir a carreira de modelo. - minha mãe se intrometeu na conversa.

CONTINUA.

Controle sobre todos, exceto sobre mim.

- Emily, o que você faria se você perdesse tudo, inclusive a sua alma?
- Eu acho que minha existência acabaria no mesmo momento. Não sou nada sem os que me cercam, sem a luz do dia, sem a esperança da vida.
- Mas e se você tivesse apenas o poder de controlar o amor do universo?

Não respondi ao Toby. Preferi ficar calada e refletir sobre o assunto. Imagina só se eu, Emily, pudesse controlar o amor universal. Eu poderia conseguir tudo o que quisesse. Poderia matar, poderia ter tudo materialmente, poderia escolher pessoas, dizer o que quiser, machucar. Fazer tudo de bom ou de ruim, pra eles não faria diferença, porque eles me amariam eternamente. Mas e eu? Emily? O meu amor eu não controlaria. E se eu não amasse ninguém? De que adiantaria se todos me amassem, se eu tivesse tudo aos meus pés e eu não pudesse sentir o tão puro sentimento? Seria o mesmo que a morte. A ausência de vida. Sem o amor, nada sobrevive, a não ser a dor, a escuridão, a solidão. Essas não precisam de amor.

-Toby, acho que seria o mesmo que perder minha alma.

Chegando no blog.

Desejo boas vindas a todos que visitarem minha página. Pretendo escrever pequenos contos fictícios e histórias com temas variados. Comentem opinando, espero que gostem. Boa leitura.

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