terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 3

Os passos se aproximavam, estava tudo completamente escuro. Não conseguia saber se a pessoa que entrava sabia se nós estávamos ali ou não. Tudo se silenciou durante alguns instantes. De repente uma lanterna se acendeu em meu rosto, levei um grande susto e arregalei meus olhos tentando enxergar quem era. O medo e a tensão tomou conta de todo o meu corpo, sentia o suor frio em minhas mãos, perdi o ar momentaneamente. A luz da lanterna se movimentou sobre os rostos de Jake e Lily, que também estavam muito assustados.
- Pirralhos, o que fazem aqui? - uma voz rouca e masculina disse. Eu podia sentir o hálito de cachaça. Não respondemos por puro medo. Eu sentia que Jake e Lily esperavam eu responder algo, apenas por ser mais velho e me "responsabilizar" por eles.
- Q-quem é você? - eu disse, minha voz tremia.
- Quem sou eu? Boa pergunta. Eu sou o dono dessa casa, sabia?
- Dono? - Lily disse baixo, como um miado.
- É, garota! Dono. - ele cospia as palavras.
- Estamos saindo, então. - eu confiei em minhas palavras. Não podia ficar ali com Lily e Jake.
- Epa, epa, epa! Alguém aqui disse pra vocês saírem? Acho que não... Podem ficar, mas terão que fazer uns favorzinhos pra mim.
- Nós preferimos ir embora. - Jake disse abraçando Lily. Até então eu não tinha visto o rosto do sujeito, pois ele apontava a lanterna apenas para nós três.
- VOCÊS FICAM! Hahahaha... E você, menina, vem cá. Senta aqui no meu colo.
- Não quero. - Lily disse praticamente chorando. Ela abraçava Jake cada vez mais forte, ele era seu protetor.
- Vem agora! - ele avançou nela e a puxou pelo braço.
Lily começou a chorar e gritar desesperadamente, mas eu sabia que ninguém viria nos ajudar ou salvar ali, naquela casa abandonada e no meio da madrugada. Se alguém devia fazer algo, esse alguém seria eu, o Jake estava com mais medo comparado a mim, eu era o que restava.
A lanterna estava caída no chão virada para a parede, então ninguém via o que acontecia ali. Eu só escutava Lily bater nele tentando se defender. Ela gritava "não" incontrolável e desesperadamente. Corri em direção aos fundos da casa e peguei um bom pedaço de madeira que estava jogado por lá junto a outros entulhos. Voltei para o local da cena. Tudo o que eu escutava eram: os gritos de Lily, o debater dela, o choro de Jake e meus corridos passos. Aproximei-me de Lily e do homem bêbado, pedi a Deus para que acertasse meu alvo. Juntei minhas forças e dei uma paulada na cabeça de alguém. Eu esperava que fosse na do maldito bêbado. Depois da paulada, tudo se silenciou, eu não queria ter machucado Lily. Tudo estava escuro e silencioso agora. O que havia acontecido? Nem eu sabia.

CONTINUA

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