quinta-feira, 4 de março de 2010

A menina que se apaixonou pela morte.

Millie era uma menina comum, pelo menos pra ela e pras pessoas á sua volta. Certa noite, enquanto ela andava com seus amigos pela rua, por um descuido foi atropelada, entrando em coma.

Narrado por Millie:

Dia um. Acordei um pouco tonta num lugar claro e abafado. Eu escutava pessoas chamarem pelo meu nome, mas não tinha forças pra respondê-las. Eu estava sendo levada para algum lugar diferente. Colocaram-me num pequeno quarto branco e enfiaram-me tubos e agulhas. Eu sentia muita dor pelo corpo, mas não conseguia reagir.
- Millie, você me escuta? - era minha mãe. Eu escutava, mas não podia afirmar isso pra ela.
- Doutor, o que vai acontecer com minha filha? - ela chorava desesperadamente.
- Ela tem ferimentos sérios, estaremos cuidando dela, mas você não poderá ficar aqui por muito tempo, ela precisa descansar.
Adormeci. Finalmente minha dor havia sumido. Eu estava sob efeito de remédios.

Dia dois. Levantei da cama e andei pelo quarto branco, que estava vazio. Virei e levei um grande susto ao ver tal cena: deparei-me com meu corpo na cama, eu estava pálida e parecia estar morta. Mas como eu estava vendo eu mesma? O monitor ainda registrava as batidas do meu coração. Mas minha alma, minha essência não estava ali. Eu me sentia livre para ir pra onde eu bem entender.

Dia três. "Oi, meu nome é Elliot." Aquelas palavras foram gostosas de ouvir. "Oi." Senti timidez ao estar diante de um ser tão belo. "Acompanhe-me." Será que ele era médico? Ele saiu do hospital e eu continuei o acompanhando. Andamos durante horas e a noite caiu. Chegamos numa floresta com a mata bem fechada e ele me guiou até uma caverna escura e úmida. "Fique aqui por um tempo, estará segura." Ele saiu caminhando e se tornou parte da escuridão.

Dia quatro. Até então eu não havia dormido, nem comido, mas não sentia falta dessas coisas materiais. O dia se passou e Elliot voltou apenas quando a escuridão caiu novamente. "Vim te buscar." "Pra onde vamos?" "Para a escuridão. Onde a luz do dia não existe." Estremeci com um pouco de medo, mas me sentia totalmente segura com ele ao meu lado. Como se estivesse hipnotizada, apenas seguia Elliot e fazia o que ele ordenava.

Dia cinco. A escuridão. Quando percebi, havia chegado a meu destino junto ao Elliot. "Millie, fique comigo. Te protegerei agora e para todo o sempre. Você aceita viver comigo aqui, na escuridão?" A escuridão não era o que eu imaginava pra mim, mas eu já não era como antes, me sentia diferente. "Elliot, eu tenho medo." "Você precisa acreditar em mim." "Eu acredito."

Dia seis. Elliot sobrevoava a escuridão. Eu estava sobre as costas dele observando suas imensas asas azul marinho. Eu sentia que ele fazia parte de mim. Suas feições perfeitas me atraíam eternamente, eu havia me encontrado nele.

Dia sete. A chuva caía negra e fria. Eu sentia meus lábios congelados. "Você será minha, para sempre." Eternizou suas palavras com um beijo gelado.

FIM

segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Final

Eu estava triste. Havia chegado o dia em que Lily e Jake iriam embora e eu já tinha minha resposta para eles.
- Preciso falar com vocês. - disse me aproximando.
- Fale. - disse Jake.
- Eu desejo toda a sorte do mundo pra vocês dois. Nunca me esquecerei de vocês. Fazem parte da minha vida, da minha história.
- Você não vem? - disse Lily já chorando.
- Não. Seguirei meu caminho assim como vocês seguirão os seus. É triste, mas é preciso. - eu nunca havia me sentido tão triste desde a morte de meus pais. - Vão em paz e desejem-me sorte. Amo vocês.
Dei um forte abraço em cada um deles. Soluçávamos. Cada um tomou seu rumo e seguimos pacificamente tristes.
~
Vaguei durante algumas semanas, refletindo sobre a vida. Lembrei-me de quando eu era criança, quando meus pais me protegiam e me apoiavam. Quando eu sonhava ser um grande profissional. Tudo estava desmoronado. Eu ainda só não tinha me dado conta que eu, sim, eu mesmo, podia mudar isso de figura.
Depois desses pensamentos, a primeira coisa que fiz foi procurar uma biblioteca pública. Ali foi o começo de tudo. O meu recomeço.
~
Todos os dias eu ia para a biblioteca de manhã e passava o dia lá. Á noite eu trabalhava e dormia na rua. Aos poucos, fui me instruindo. Todas as noites eu juntava meu dinheiro, que era pouco.
Chegou a época de vestibulares, dei meu melhor. Para um bom futuro, tão sonhado, eu tinha que tentar de tudo. Esperei sair o resultado confiante como nunca. Quando saiu, demorei para acreditar. Eu passei. Aquilo era o símbolo de minha vitória.
~
De mês em mês, fui reconstruindo a minha vida. Consegui trabalho, casa e estava na faculdade. Eu era um novo David.
Alguns anos se passaram, terminei a faculdade, construí uma família, eu era uma pessoa feliz. Tive filhos, eu os amava com todas as minhas forças. Incrível como uns anos de pura dedicação, sonhos e força de vontade tornaram minha vida completamente diferente do que era antes.
Final feliz?
~
Viajei com minha família. Passei por alguns estados pelo meu país. Estávamos numa lanchonete descansando, quando vi minha filha brincando com uma menina da mesma idade aparentemente. Fiquei ali, apenas observando, até que a pequena menina caiu, então chorou. Minha filha a ajudou a se levantar e ela foi até sua mãe.
- Olha, mamãe, meu joelho está ferido.
- Não preocupe, minha querida. Chame o tio Jake, peça para ele lavar.
- Tá bem. - então ela entrou na lanchonete e sumiu, minha filha havia ido junto. Minha esposa estava alimentando nosso bebê que tinha apenas um ano. Retornei o olhar á mulher, mãe da menina. Eu a observava, ela me parecia familiar. Então ela percebeu que eu a estava observando e deixou uma lágrima escorrer pelo seu rosto fazendo uma grande expressão de espanto.
- David? - disse ela se levantando. Franzi a testa confuso. - Não se lembra de mim? Sou eu, Lily.
- Lily! Não acredito! - a abracei com força, nós chorávamos. Eu estava muito emocionado.
- David, quanto tempo. Olha só pra você! Como é bom te ver assim, tão vivo.
- Lily, você não sabe como estou emocionado ao te ver bem também.
- Você tem uma família. Lindos filhos. - as lágrimas não cessavam. - Eu sabia que você iria conseguir.
- Eu também sabia que vocês iriam ter sucesso no futuro.
- JAAAKE! - ela o gritou.
- Que foi, Lily? - disse ele saindo da lanchonete, que por sinal era deles. Quando ele olhou pra mim, teve a mesma expressão da Lily. - Não acredito, David! - me abraçou.

Aquele dia sim, foi um dia mais que memorável. Eu nunca esperava reencontrar Lily e Jake, mas aconteceu e foi maravilhoso. Conversamos durante horas e passamos alguns dias ali naquela cidade. Desde aquele dia, nunca mais perdemos o contato.
Lily e Jake eram pedaços da minha alma, quando eles estavam tristes, eu estava. Quando eles estavam felizes, eu estava. Nós confiamos em nós mesmos e alcançamos mais que um sonho, alcançamos nós mesmos. Basta encontrar você mesmo em outras pessoas para ser feliz.

FIM

Uma criança nas mãos da rua. - Parte 4

Consegui achar a lanterna e reacendê-la. O bêbado estava desmaiado. Chamei Lily e Jake e saímos dali o mais rápido possível. Andamos em média de uma hora, nos distanciamos bastante da velha casa.
Os dias se passavam e passávamos as noites pelas ruas, em calçadas, debaixo de pontes, a rua agora era a minha casa. Eu estava sozinho para sempre e sabia disso, mesmo Lily e Jake estando ali comigo, eles eram meus amigos, mas eu estava sozinho.
~
Cinco anos se passaram, nós três crescemos. Ainda vivíamos na rua, mas trabalhávamos vendendo balas, engraxando sapatos, fazendo favores. Jake e Lily eram como irmãos pra mim.
Certo dia, eu estava pensando sobre meu futuro. Eu não queria viver na rua pra sempre, como mendigo, ganhando misérias. Eu sonhava alto, sonhava querendo realmente realizar. Mas eu sabia que meus sonhos eram praticamente impossíveis para um menino de rua, como eu. Pensei em desistir, mas sonhos são uma das coisas mais preciosas que nós humanos temos. Decidir lutar por mérito.
~
- David, eu e Lily tomamos uma decisão.
- Que decisão, Jake?
- Nós viajaremos por aí, com caronas. Vamos tentar uma vida melhor em outro lugar. Eu sei que é muito difícil, mas se você quiser, pode vir conosco. - os olhos dele mareavam.
- Jake, eu não sei o que te responder. - minha voz estava trêmula, levei um choque ao receber tal notícia.
- Tudo bem, David. - Lily sorriu e segurou minha mão, deixando escapar uma lágrima. - Nós iremos daqui a uns dias. Enquanto isso, pense.
- Obrigado, eu amo muito vocês. - nos juntamos num abraço triplo.

CONTINUA