segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma criança nas mãos da rua. - Final

Eu estava triste. Havia chegado o dia em que Lily e Jake iriam embora e eu já tinha minha resposta para eles.
- Preciso falar com vocês. - disse me aproximando.
- Fale. - disse Jake.
- Eu desejo toda a sorte do mundo pra vocês dois. Nunca me esquecerei de vocês. Fazem parte da minha vida, da minha história.
- Você não vem? - disse Lily já chorando.
- Não. Seguirei meu caminho assim como vocês seguirão os seus. É triste, mas é preciso. - eu nunca havia me sentido tão triste desde a morte de meus pais. - Vão em paz e desejem-me sorte. Amo vocês.
Dei um forte abraço em cada um deles. Soluçávamos. Cada um tomou seu rumo e seguimos pacificamente tristes.
~
Vaguei durante algumas semanas, refletindo sobre a vida. Lembrei-me de quando eu era criança, quando meus pais me protegiam e me apoiavam. Quando eu sonhava ser um grande profissional. Tudo estava desmoronado. Eu ainda só não tinha me dado conta que eu, sim, eu mesmo, podia mudar isso de figura.
Depois desses pensamentos, a primeira coisa que fiz foi procurar uma biblioteca pública. Ali foi o começo de tudo. O meu recomeço.
~
Todos os dias eu ia para a biblioteca de manhã e passava o dia lá. Á noite eu trabalhava e dormia na rua. Aos poucos, fui me instruindo. Todas as noites eu juntava meu dinheiro, que era pouco.
Chegou a época de vestibulares, dei meu melhor. Para um bom futuro, tão sonhado, eu tinha que tentar de tudo. Esperei sair o resultado confiante como nunca. Quando saiu, demorei para acreditar. Eu passei. Aquilo era o símbolo de minha vitória.
~
De mês em mês, fui reconstruindo a minha vida. Consegui trabalho, casa e estava na faculdade. Eu era um novo David.
Alguns anos se passaram, terminei a faculdade, construí uma família, eu era uma pessoa feliz. Tive filhos, eu os amava com todas as minhas forças. Incrível como uns anos de pura dedicação, sonhos e força de vontade tornaram minha vida completamente diferente do que era antes.
Final feliz?
~
Viajei com minha família. Passei por alguns estados pelo meu país. Estávamos numa lanchonete descansando, quando vi minha filha brincando com uma menina da mesma idade aparentemente. Fiquei ali, apenas observando, até que a pequena menina caiu, então chorou. Minha filha a ajudou a se levantar e ela foi até sua mãe.
- Olha, mamãe, meu joelho está ferido.
- Não preocupe, minha querida. Chame o tio Jake, peça para ele lavar.
- Tá bem. - então ela entrou na lanchonete e sumiu, minha filha havia ido junto. Minha esposa estava alimentando nosso bebê que tinha apenas um ano. Retornei o olhar á mulher, mãe da menina. Eu a observava, ela me parecia familiar. Então ela percebeu que eu a estava observando e deixou uma lágrima escorrer pelo seu rosto fazendo uma grande expressão de espanto.
- David? - disse ela se levantando. Franzi a testa confuso. - Não se lembra de mim? Sou eu, Lily.
- Lily! Não acredito! - a abracei com força, nós chorávamos. Eu estava muito emocionado.
- David, quanto tempo. Olha só pra você! Como é bom te ver assim, tão vivo.
- Lily, você não sabe como estou emocionado ao te ver bem também.
- Você tem uma família. Lindos filhos. - as lágrimas não cessavam. - Eu sabia que você iria conseguir.
- Eu também sabia que vocês iriam ter sucesso no futuro.
- JAAAKE! - ela o gritou.
- Que foi, Lily? - disse ele saindo da lanchonete, que por sinal era deles. Quando ele olhou pra mim, teve a mesma expressão da Lily. - Não acredito, David! - me abraçou.

Aquele dia sim, foi um dia mais que memorável. Eu nunca esperava reencontrar Lily e Jake, mas aconteceu e foi maravilhoso. Conversamos durante horas e passamos alguns dias ali naquela cidade. Desde aquele dia, nunca mais perdemos o contato.
Lily e Jake eram pedaços da minha alma, quando eles estavam tristes, eu estava. Quando eles estavam felizes, eu estava. Nós confiamos em nós mesmos e alcançamos mais que um sonho, alcançamos nós mesmos. Basta encontrar você mesmo em outras pessoas para ser feliz.

FIM

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