quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tormenta

Estava ela com seus pensamentos mais uma vez. Tormenta. Sacou seu último cigarro, acendeu e o depositou em seus lábios rachados e secos de vida. Tragou. Pensou. Tragou mais uma vez. Desta vez pôs-se a olhar para o mar escuro e calmo como uma alma que dorme tranquila. Tormenta. Estava perdida. Muito mais perdida que uma poeira no universo. As imagens e frases passavam rapidamente em sua cabeça, algumas paravam, eram analisadas, mas logo descartadas. Procurou por outro cigarro, não achou, chorou. Seus lábios arderam pelas lágrimas, as rachaduras se avermelharam como brasa. Sua língua estava seca de bebida, seu pulmão seco de cigarro. Tormenta. Ao lado do pulmão se via a preocupação. Debaixo do fígado se via a raiva. Colado no fêmur estava a tristeza. Dentro do estômago estava a esperança. E o amor era salpicado nos pés. Verdadeira tormenta interna. Seu rosto era quase morto de tão calmo. Soprou uma fumaça de desejo, guiou-se até o mar, molhou os pés, formigou o amor. Reavivou. Ela nem pensou. Seus pés resolveram levá-la até lá. Se encontraram com um outro par, onde estava salpicada a solidão.
A tormenta acabou.