segunda-feira, 12 de abril de 2010

O abajur.

Eu estava na sala sentado. Confortável no meu lugar de sempre. Estava chovendo e as crianças brincavam no chão com cartas. E eu apenas observava...
Outro dia vi a filha mais velha chegar em casa com várias pessoas e fazer uma bela festa sem os pais saberem. E eu apenas observava...
Já vi o caçula derramar leite no sofá e limpar correndo antes que alguém chegasse e brigasse com ele. E eu apenas observava...
Já vi um sapo entrar debaixo do sofá e só sair na hora do jantar, onde muitos estavam sentados ali. Todos gritaram, alguns pularam, dois vomitaram. E eu apenas observava...
Cansei de ver a empregada limpar a televisão, o rádio e roubar pequenas coisas, como velas. E eu apenas observava...
Certo dia, a irmã do meio chegou perto de mim e... click!
- MÃÃÃE!
- QUÊÊÊ?
- Vem cá! Click click. - e ela veio.
- Que foi, menina? - limpava suas mãos em uma toalha.
- Olha.
Click click click.
- É, temos que trocar a lâmpada do abajur.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O último grito de Clover

Era uma vez uma menina que estava escrevendo. Seu nome era Clover.
Ela estava sozinha em sua casa, sozinha em seu quarto. A luz havia acabado, por isso ela estava apenas com uma vela acesa. Clover estava sentada em uma cadeira de madeira e á sua frente estava a escrivaninha, também de madeira. Com a luz amarelada da vela, a escrivaninha junto com a cadeira ficavam num tom leve dourado.
Clover estava com frio, mas sem roupas de apropriadas para isso. Ela estava com seus longos cabelos soltos, que se tornavam uma espécie de agasalho.
Ela escrevia, escrevia, mas ninguém sabia sobre o quê. Clover cessou sua caneta por um segundo e segurou a respiração, como se estivesse parando o tempo ou apenas checando se estava tudo bem.
Clover sentiu um frio subir pela espinha fazendo-a arrepiar por inteiro. Premonição?
Ela sentiu um leve assopro em seu ouvido dizendo oi. Isso a fez parar durante uns instantes. Seus olhos estavam arregalados. Clover cuidadosamente olhou para o lado com o canto do olho, sem mover a cabeça. Um vulto frio. Ela sentiu muito medo, mas viu que a única coisa que poderia fazer sem demonstrar seu medo era voltar a escrever. Levantar dali para checar seu quarto ou a casa estava fora de cogitação, então Clover voltou a escrever.
Passados alguns minutos de palavras tremulamente escritas, um vento gelado soprou seu quarto fazendo a folha em que ela escrevia voar, mesmo as janelas estando fechadas. Clover podia agora escutar o pulsar forte de seu coração. Ela se levantou com as pernas bambas, pegou a vela com as mãos trêmulas e caminhou em direção aonde a folha havia voado. Agachou-se e tomou a folha em suas mãos. Ao levantar-se, deparou com uma figura macabra sorrindo maliciosamente que só Clover poderia descrever.
E as paredes daquele quarto guardaram o último grito de Clover.
Depois de alguns dias de investigação, foi encontrada a folha em que ela escrevia...

"Aqui escrevo para quem encontrar esta carta. Hoje sairei da cidade e tentarei uma nova vida longe daqui. Engravidei há pouco tempo, mas meus pais ainda não sabem, pois se soubesse, me mandariam abortar, mas eu quero este filho.
Pais, se algum de vocês estiverem lendo isso, quero que saibam que amo vocês apesar de tudo. Um dia darei notícias.
Bom, sinto que devo ir agora. Estou com um pouco de medo, mas estou confiante. Parece que estou acompanhada, ainda não sei pelo quê. Peço que não me procurem, pois estarei

ELA ESTÁ COMIGO AGORA."

A carta foi encontrada suja de sangue e incompleta. Os pais de Clover se mudaram da casa após se traumatizarem ao encontrarem o corpo de sua filha incompleto e mutilado.
Foram encontrados no quarto apenas a cabeça, uma perna e os dois braços de Clover. Os pais dela alegaram que se mudaram também porque não tinham paz na casa e sempre escutavam um barulho insistente e interminável de choro de bebê que vinha do quarto dela, que estava completamente vazio desde a sua morte.

E nunca mais se ouviu falar de Clover e de seu mistério.